Artigo de opinião escrito pelo Professor António Caselas, AE de Santa Catarina
Ouve-se dizer que a Terceira Guerra Mundial já começou. Em certo sentido, há razões para se afirmar isso: a guerra da Ucrânia que se iniciou com a invasão russa em 24 de Fevereiro de 2022 transformou-se numa guerra extensiva que envolve direta e indirectamente potências ocidentais e a Rússia.
A sua intensificação pode levar ao envolvimento de vários países que a acompanham à distância. A Rússia já ameaçou, por diversas vezes, a Ucrânia que iria usar armas nucleares táticas (entenda-se aquelas que possuem menor poder de destruição). Mas é um risco muito elevado e um caminho sem retorno. A questão é que o Ocidente e aqueles que se encontram ao lado da Ucrânia como país soberano invadido não podem ceder.
Trata-se de um dilema: essa ameaça é suficientemente terrível para evitar que a guerra se intensifique ainda mais e que se pondere se a ajuda à Ucrânia não se está a tornar imprudente: mas, simultaneamente, se houver um abrandamento e se a Rússia levar a melhor, outros países agressivos (como a Coreia do Norte) podem invadir outros e ficarem impunes. A Coreia do Norte pode invadir a Coreia do Sul, ou mesmo a China anexar Taiwan e acharem que isso não terá grandes consequências.
Ceder à ameaça é problemático e enfrentá-la também. As consequências de qualquer dessas posições podem ser desastrosas. Permitir que a Rússia ganhe a guerra na base da ameaça nuclear ou permitir chegar a um patamar em que essa ameaça se concretize é um dilema com efeitos que superam as fronteiras da Europa.
Será aceitável que qualquer potência nuclear invada um país que só possua armas convencionais desde que alegue que invoque o seu poder desproporcionado? É uma questão geopolítica complexa que só pode ser enquadrada com uma resposta clara por parte da ‘comunidade internacional’: não ceder à chantagem nuclear.
Reinvocar a dissuasão nuclear do passado, ou seja, relembrar que o uso de armas nucleares levará à extinção da Humanidade e prever um cenário em que ninguém sai ganhador parece não refrear ou impedir a ameaça, mas existem poucas alternativas. Há que negociar. Mas, se dessa negociação o país invadido ficar a perder, voltamos ao problema: será que vamos permitir que outros sejam invadidos na base da mesma ameaça?
Por outro lado, achar (como muitos o fazem ingenuamente) que os países possuidores de armas convencionais possam enfrentar facilmente uma potência nuclear é uma ilusão. Pensar que a guerra da Ucrânia pode acabar em 24 horas é ainda pior. Essa proeza exigiria um milagre. A velha fórmula: ‘Sabemos como começam as guerras, mas não como acabam’ assume aqui uma dimensão dramática.
Oeiras, 02/12/2024