Texto escrito pelo professor Jorge Marrão, AE de Santa Catarina

A segunda obra de que dou testemunho de leitura é A Bíblia. Lê-se? Sim, o livro dos livros deve ser lido. Eu comecei por ouvi-lo, como muitos de vós, mas também me interesso pela sua leitura. Não é para ler de enfiada. Calma! São muitos textos afinal. O meu testemunho é como mero leitor. Porque, quer queiramos quer não, a civilização (dita Ocidental) assenta na matriz judaico-cristã; seja como for, o nosso tempo ainda é medido pelos rituais cristãos e católicos, por isso, nesta quadra da Quaresma, proponho a visita a alguns textos dos evangelhos. Começo pelo Sermão da Montanha.
A urgência da humildade, do perdão, da justiça, da paz…
O Sermão da Montanha é um dos discursos mais profundos e emblemáticos de Jesus Cristo, Mateus (capítulos 5 a 7). É um dos pilares do cristianismo. O sermão apresenta ensinamentos essenciais sobre a conduta moral. A sua mensagem transcende contextos religiosos e culturais, oferecendo princípios universais de justiça, misericórdia, amor e paz urgentes no mundo atual.
No início do sermão, Jesus proclama as Bem-Aventuranças, uma série de princípios e qualidades universais: humildade, pureza de coração, misericórdia, justiça, paz... Estas virtudes contrastam com os valores promovidos pela sociedade moderna, dado que se lhe sobrepões, excessivamente, a riqueza material, o poder, a agressividade e a violência; o justicialismo e o exibicionismo, em suma, a superficialidade. No entanto, o Sermão da Montanha lembra-nos que há atitudes espirituais profundas, associadas à firmeza de princípios e ações que nos tornam verdadeiramente humanos.
Na época estas ideias foram um estrondo. Numa sociedade dominada pelo pragmatismo romano e o convencionalismo judaico, só podia dar no que deu: quem anda a subverter a ordem estabelecida?
Considero o Sermão da Montanha um convite à transformação interior e à construção de um mundo mais justo e harmonioso. Os seus princípios continuam válidos e são uma resposta aos desafios da atualidade. Pelo contrário, há quem afirme que, quem seguisse tais princípios, nunca sairia da indigência, porque se proclama a pobreza; nunca se afirmaria, porque se proclama a humildade; nunca venceria, porque se proclama a paz «sem vencedores nem vencidos», como viria a escrever Sophia de Mello Breyner.
Na época estas ideias foram um estrondo, numa sociedade dominada pelo pragmatismo romano e o convencionalismo judaico.
Todavia, creio que se a sua lição dominasse o dia-a-dia, certamente viveríamos numa sociedade pacífica, solidária, justa e equilibrada. Bem precisamos.
«Bem-aventurados os pacificadores!»
Boas leituras.
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