Com a chegada de janeiro, velhos e novos conhecidos escritores chegaram às aulas de Português do 8.º ano. De Coetzee, Nobel sul-africano, os alunos ouviram o excerto seguinte:
«[...] É como se não o vissem quando fala, esquecem até o seu nome. A indiferença deles fere-o mais do que é capaz de admitir. Não obstante, cumpre inteiramente as suas obrigações para com eles, para com os pais deles e para com o estado. Mês após mês prepara, recolhe, lê e anota os seus trabalhos, corrigindo erros de pontuação, ortografia e gramática, questionando argumentos fracos e anexando a cada trabalho uma pequena crítica devidamente pensada.
Continua a ensinar, porque o ensino lhe proporciona uma forma de vida; também porque o ensina a ser humilde, porque o faz compreender quem ele é neste mundo. Compreende a ironia: aquele que vem ensinar aprende a mais interessante das lições, ao passo que aqueles que vêm para aprender não aprendem nada.»
J. M. Coetzee, Desgraça, Publicações Dom Quixote, 1999, pp.10-11.
Em contexto de aula, seguiu-se o desafio à escrita criativa. Como responder ao professor David Lurie?
Eis algumas respostas dos alunos:
- Não, acredito que os alunos sempre saem com algumas aprendizagens. Claro que uns terão mais aptidão para uma coisa que outros, pois não somos todos iguais.
Imagine assim: se nenhum aluno nunca aprendesse nada, como seria possível existirem pintores, escritores ou até mesmo médicos muito célebres?
Afonso Lopes, n.º 1, 8.º C
- Nem sempre e nem toda a gente consegue aprender eficazmente, na escola. Assim como muita gente passa de ano com notas excelentes, também há quem chumbe com notas terríveis. Pode depender da explicação do professor ou da concentração do aluno. Às vezes, um pouco de estudo em casa também ajuda, agora é impossível sair sem aprender nada.
Beatriz Castro, n.º 3, 8.º C
- Percebo o seu ponto de vista e compreendo a razão de estar revoltado, mas também sei que nem todos os alunos são assim. É verdade que existem sempre aqueles que pensam saber mais do que o professor e outros que demonstram comportamentos desrespeitosos, mas há também quem se importe com o seu futuro e quem se esforce e tenha gosto em aprender. Gostava que o professor tivesse uma perspetiva diferente e mais positiva em relação a esta bonita profissão.
Constança Macela, n.º 4, 8.º C
- Professor David, eu, por um lado, discordo da sua visão, pois aprendo na escola não só o que os professores explicam sobre a matéria, mas também lições para a vida, algo que ajuda a preparar-me para o futuro. Por outro lado, percebo o seu pensamento e a sua opinião, mas considero que não devemos generalizar, depende de pessoa para pessoa, neste caso, de aluno para aluno.
Daniela Lopes, n.º 4, 8.º B
- Professor David, se os alunos não tentam, não vale a pena insistir, se não querem ser ensinados, ensine-se a si. Os alunos vão prejudicar-se.
Martim Patinhas, n.º 19, 8.º B
- Concordo com a sua visão, professor David, pois os alunos, em vez de estarem a fazer tudo muito depressa, devem ser mais cuidadosos porque cada coisa tem o seu tempo. Como disse José Saramago, não devemos ter pressa, mas também não devemos perder tempo, o que me faz pensar que os alunos têm tendência para fazer tudo muito rápido.
Salvador Raposo, n.º 21 , 8.º C
Fonte: Professora Carla Mariano