Artigo de opinião da autoria do professor António Caselas, AE de Santa Catarina

O termo foi usado pela primeira vez em 1957 por Julian Huxley, irmão de Aldous Huxley, o autor do célebre livro Admirável Mundo Novo. As tentativas de ‘fundir’ o humano e a máquina ou de o ‘aumentar’ e ‘substituir’ não são novas. O mesmo sucede com as investigações que pretendem construir uma ‘interconexão’ entre o chip e o neurónio.
Musk patrocinou a fabricação de um homem-ciborgue. Os implantes cerebrais quer em animais, quer em humanos geraram polémica, mas o pretexto para a contornar é simples: ajudar a tratar doenças neurodegenerativas. Mas todos sabem que não é apenas disso que se trata, mas de exponenciar as capacidades humanas, transferi-las para uma máquina e produzir um ‘artefacto’ que se superiorize ao humano.
A ideia de travar o envelhecimento e a morte é o próximo passo. Num momento em que existem recursos e uma mente delirante para o fazer, tudo se torna possível. Os recursos existem e a mente também. Os primeiros são disponibilizados pela Google e motivados pelos devaneios dos seus fundadores e o Dr. Frankenstein tem um nome: Raymond Kurzweil, diretor de engenharia da empresa.
O Dr. ‘Frank’ é um velho visionário que toma 75 comprimidos por dia para ver se trava o envelhecimento e quer ser conservado depois da sua morte para ‘ressuscitar’ numa altura em que a tecnociência o permita. Isto parece ficção de má qualidade, mas é um desejo que o próprio assume.
O transumanismo será, agora, a possibilidade de vislumbrar a imortalidade. Uma meta, certamente, apenas ao alcance de alguns, o que eticamente é, no mínimo, suspeita. Exponenciar as capacidades humanas será mais fácil no futuro tal como os avanços na computação quântica o comprovam. Aceder à imortalidade é uma ideia perigosa e bizarra. A finitude é uma realidade incontornável de tudo o que existe no universo. Abrange também o próprio universo. O vislumbre da eternidade, para além de aberrante é um passo em falso.
Sabemos que a ciência já construiu os meios para a destruição total do planeta. Na hipótese surreal de garantir a ‘imortalidade’ ou a extensão da vida para além do razoável isso implicará mais problemas a somar aos anteriores. Se pensarmos nas consequências biopolíticas, isso seria suficiente para não privilegiar a disponibilização de recursos para alimentar fantasias e delírios em vez de os canalizar para combater a pobreza, a fome e a crise ambiental; ou, se tal não for possível, impor o que a Google está sempre a tentar evitar: pagar impostos sobre os seus lucros astronómicos.
Contudo, o habitual pretexto mantém-se: tentar curar as doenças que levam a muitas mortes e situações de invalidez. A duvidosa ideia de ‘transferir’ o conteúdo do cérebro (ou da consciência) para uma máquina para contornar a finitude biológica do corpo já foi desenvolvida na ficção. O resultado não surpreendeu: os seus mentores foram eliminados. Na verdade, a questão essencial é recorrente: o exercício do poder e da dominação através da ciência e da tecnologia.
Cumpre-nos ‘domesticar’ ou travar essas bizarrias.
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