Parem de Comparar o Incomparável: A Injusta Verdade por Trás dos Rankings Escolares

Artigo de opinião escrito pelo professor Pedro Miguel Rocha, AE de Santa Catarina


Todos os anos, como um relógio, somos bombardeados com uma nova lista: os rankings das escolas. São chamativos. Dão cliques. São tratados como verdade absoluta. Mas também são cruelmente enganadores. Porque, embora finjam ser objetivos, científicos e justos, esses rankings escondem muitas vezes uma verdade profundamente injusta: comparam o que não pode ser comparado.

Falemos com clareza. Como se pode colocar lado a lado uma escola privada situada num bairro rico — com salas com ar condicionado, tecnologia atualizada, turmas pequenas e alunos com apoio familiar — com uma escola pública subfinanciada, a lutar diariamente no coração de uma comunidade marginalizada?

E no entanto, lá estão elas. Na mesma lista. Classificadas. Julgadas. Envergonhadas ou celebradas. Como se tivessem começado a corrida do mesmo ponto de partida.

Mas não começaram.

Um aluno que acorda numa casa tranquila, com um pequeno almoço completo, ajuda dos pais nos trabalhos de casa e acesso a atividades extracurriculares, não vive a mesma realidade que outro aluno que acorda numa casa onde pode não haver luz, onde os pais trabalham em três empregos ou onde a segurança não é garantida — nem em casa, nem no caminho para a escola, nem dentro da sala de aula.

E mesmo assim, comparam-nos.

Os governos e as instituições insistem que os rankings “ajudam” as famílias a fazer escolhas. Mas temos de perguntar: As escolhas de quem estão a ser servidas? Quem beneficia com estas listas? Certamente não são as escolas públicas, que acabam constantemente nos últimos lugares — não porque falham, mas porque não são devidamente apoiadas.

Estes rankings não contam a história dos professores que compram material do próprio bolso. Não medem a resiliência dos alunos que estudam à luz de velas ou percorrem quilómetros a pé para ir à escola. Não celebram as comunidades que lutam, todos os dias, para se erguerem acima do peso do abandono sistémico.

Então, porque insistem em misturar escolas privadas e públicas num só ranking “neutro”?

Será apenas desleixo? Ou algo mais sinistro — uma forma de alimentar a narrativa de que a escola pública está falida, enquanto as instituições privadas são o padrão de excelência? Será esta a desculpa para continuar a cortar fundos às escolas públicas e, em silêncio, promover a privatização?

Não é justo.

E a justiça importa. Porque quando classificamos escolas sem reconhecer as enormes desigualdades entre elas, estamos a reforçar essas mesmas desigualdades. Castigamos escolas por realidades que estão fora do seu controlo e premiamos escolas que já nasceram em cima de uma montanha de privilégios.

O que precisamos é de uma nova conversa. Uma conversa mais honesta. Que não apague o contexto por detrás dos números. Que não ignore as experiências reais de alunos e professores que vivem em mundos diferentes.

Não precisamos de mais uma lista.

Precisamos de justiça.

 

 

Oeiras, 05/04/2025

 


In English:

Adicionar comentário

Comentários

Ainda não há comentários.