"O Papa deve renunciar?"

Artigo de opinião escrito pelo professor António Caselas, AE de Santa Catarina


A imagem de um Papa – chefe máximo da igreja católica – doente e fisicamente débil deveria preocupar os fiéis. Um Papa doente e fisicamente diminuído, delegando muitas vezes as suas tarefas sacramentais em nada beneficia a igreja. No plano simbólico, trata-se de um falha que só é atenuada devido ao seu carisma e simpatia, como é o caso de Francisco. O sacrifício pessoal pode afetar a igreja. Provavelmente, um Papa como Francisco não precisa disso. Talvez João Paulo II, num momento em que a sua saúde fraquejou drasticamente, devesse seguir o exemplo de Bento XVI.

Numa declaração de 10 de fevereiro de 2013, Bento XVI explicou as razões da sua renúncia. Não consta que fosse uma decisão nefasta. O designado Papa Emérito convocou o Consistorium para comunicar a sua decisão de se afastar. Afirma que a sua idade avançada e as suas forças já não permitem que leve a cabo a sua missão, ou seja, o ‘ministério de Pedro’. Considera que, não obstante dar importância à valorização ‘espiritual’ do auto-sacrifício, vivemos num tempo em que o vigor «seja do corpo, seja da alma» é necessário para assegurar o cumprimento dessa missão. Renuncia, por isso, à tarefa que incumbe ao Bispo de Roma e ao sucessor de S. Pedro.

Bento XVI, que muitos consideram um guia teórico e um pensador da igreja, sabe que, no plano simbólico, a igreja não deve aparecer diminuída, não obstante a fama favorável que se associa, muitas vezes, à figura do seu chefe. O que é válido para a chefia da igreja também se aplica aos que representam o poder ‘temporal’, os líderes políticos. Recordemo-nos da debilidade do presidente Biden, mais tarde, demasiado tarde, substituído pela sua Vice-Presidente na candidatura à presidência americana. Um líder que, independentemente, da sua suposta superioridade (no plano político) em relação ao presidente que o sucedeu, desgastou a sua figura e a da sua provável sucessora. Foi desnecessariamente ridicularizado e em nada honrou o cargo de líder de uma superpotência.

Um Papa e um líder político são também homens. E, no plano simbólico, devem honrar o valor da sua pertença a uma dimensão que os ‘transcende’. Devem assegurar a sua presença no palco global com o vigor que neste tempo é requerido. Bento XVI teve plena noção disso e, sem menosprezar a importância da sua missão, decidiu afastar-se e permitir que um outro pudesse representar, para os fiéis, a missão do sucessor do Apóstolo.

 

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