Artigo de opinião escrito pelo professor António Caselas, AE de Santa Catarina

Europa
No passado temia-se o espectro do comunismo, hoje teme-se o espectro da imigração. O vice-presidente dos Estados Unidos veio à Europa recentemente reatualizar esse espectro.
Num Continente onde se assiste a uma guerra de invasão de um país soberano por parte de uma potência nuclear, o governante agitou o espantalho da imigração alegando que se trata da principal ameaça. O perigo não vem da China nem da Rússia. A verdadeira ameaça vem de dentro e não de fora. Lamenta a ausência de partidos populistas e reúne-se com a líder do partido de inspiração neonazi Alternativa para a Alemanha.
A imigração é uma questão ideológica e não sociológica, política ou económica; mas é certo que tem implicações a esses níveis, tal como verificamos nas consequências do Brexit. O governante americano referiu-se claramente a isso e não deixou de relacionar a escolha pelo Brexit com a questão da imigração. Os imigrantes transformaram-se num bode expiatório global. Estão na causa do principal crescimento dos partidos populistas de extrema-direita que obtiveram sucesso eleitoral em países ‘civilizados´ do Norte da Europa e noutras regiões.
A ostracização e perseguição dos imigrantes não começou no presente, tal como assinalou a filósofa Hannah Arendt. Acentuou-se a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Porém, tornou-se atualmente uma bandeira do extremismo de direita. Vance pretendeu camuflar esse aspeto referindo que o populismo de extrema-esquerda tem sido também censurado, mas esqueceu-se de dizer que a imigração é indissociável do discurso e das propostas políticas da extrema-direita.
Como símbolo de uma batalha ideológica, a abordagem da ameaça da imigração é erigida independentemente dos factos e ignora a realidade sociológica. O imigrante foi transformado num criminoso, num terrorista e num agente de degradação e desestabilização da identidade cultural. Como sucede com todos os bodes expiatórios, o imigrante tornou-se no centro de uma vaga irracionalista. Como sucedeu no passado, tornou-se num alvo: deve ser perseguido, expulso ou deportado e, qualquer dia, poderá tornar-se num alvo a abater.