A Questão da Imigração – I

Artigo de opinião escrito pelo professor António Caselas, AE de Santa Catarina

 

América


O extremismo ideológico ignora, distorce, recria e inventa os factos e a História. Perverte o sentido dos relatos mais simples e lineares do percurso da existência dos povos.

O filme de Charlie Chaplin, O Imigrante, de 1917, apesar da cena talvez demasiado longa passada no restaurante elucida bem a vida dura dos imigrantes que chegam à América, que no filme aparece designada Terra da Liberdade. A personagem de Chaplin representa um imigrante generoso e solidário que ajuda a filha de uma viúva.

Independentemente da motivação passional verificamos o contrário daquilo que hoje se tornou inquietante: imigrantes instalados, filhos e netos de imigrantes que tiveram sucesso ou mesmo enriqueceram, a perseguir e a exigir a purga dos seus iguais.

Os Estados Unidos, apesar de se terem constituído como um lar de imigrantes, no mesmo ano em que Chaplin realizava o filme (1917) saía o Immigration Act e o Asiatic Barred Zone Act que baniam os supostos anarquistas, homossexuais, loucos ou alienados.

Hoje dir-se-ia que a América é a Terra da Criminalização e Perseguição dos Imigrantes. Um país que se construiu à custa de ‘alienígenas’, forasteiros e estrangeiros discrimina-os e expulsa-os como se fossem uma terrível ameaça. A criminalização dos imigrantes, como sabem os espíritos mais lúcidos e rigorosos, é absurda.

A Terra da Liberdade foi e continua a ser a terra dos carrascos das minorias. Se no passado a federação esteve sempre envolvida com o flagelo do racismo, hoje ao racismo junta-se a mais primária xenofobia, a instauração do medo do outro que é diferente. A Terra que viu nascer o populismo em território rural eleva-o agora a política de Estado. Se a essa aberração transatlântica juntarmos os seus aliados europeus verificamos uma mistura explosiva. Mas os que, de forma acéfala, se associaram a essas orientações radicais vindas de além-mar, tarde ou cedo serão também vítimas de outros tipos de ‘perseguição’, e a guerra comercial assim o prova.